terça-feira, 4 de novembro de 2008

Em casas ou lojas, motivação certa.

Revolucionar o cristianismo.
Fazer uma nova Reforma.
Construir uma nova Igreja, digna do nome, que se distancie dos modelos falidos atuais.
Estas são algumas das aspirações de alguns cristãos de hoje.
Pretensiosas aspirações, ressalte-se.
Estes cristãos definem-se de várias formas, com vários nomes ou evitando qualquer título, mas essencialmente são parecidos:
estão cansados com o que existe e querem mudanças profundas e urgentes.

As propostas são heterogêneas.
Há quem queira transformar o uso dos salões de culto.
Há quem queira abolir os salões de culto.
Há quem queira repensar os poderes das autoridades eclesiásticas.
Há quem queira abolir as autoridades eclesiásticas.
Há quem queira repensar a postura diante da homossexualidade (sem trocadilho).
Há quem queira remover qualquer barreira teológica para que os homossexuais vivam sua vida íntima sem repreensões.

Os participantes também são heterogêneos.
Alguns são cheios de vontade genuína de restaurar a pureza do Evangelho.
Outros apenas querem, nem sempre com razão, que seu comportamento atípico seja aceito.

Alguns são humildes, respeitosos e sinceros.
Outros são arrogantes, inconseqüentes e mascarados.
Há de tudo nesta onda - tal e qual a igreja velha e comum, castelo de areia que ela pretende desfazer.

Obviamente, não se pode julgar o movimento por aqueles cheios de falsidade pragmática que têm interesses obscuros em ver os modelos vigentes falirem.


Considerando então a boa parte do movimento, a que quer sim
plesmente ver uma Noiva melhor para o Cordeiro, revoluções e novas reformas são válidas, não?

Não necessariamente.

Há um problema sério com as revoluções: elas não funcionam.
É um esforço gigantesco, perigoso e até mesmo violento que no fim não serve pra nada além de externar a revolta com um sistema vigente, destruí-lo e implantar outro que no fundo tem a mesma essência e repetirá os mesmos erros em um relativamente curto período de tempo.

É inescapável que onde estiverem dois ou três seres humanos reunidos, ali haverá um sistema falho.

Não, um ser humano isolado não é um sistema perfeito - é um pecador solitário.

A primeira atitude dos apóstolos enquanto liderança organizada da igreja foi um fracasso. Elegeram Matias como apóstolo através da sorte. E a segunda atitude seria considerada também um erro. Afastaram-se do contato direto do povo instituindo diáconos para a tarefa de ação social. Ainda nos primórdios da fé cristã, uma ala da Igreja não aceitava crentes gentios, e outra ala aceitava-os desde que se tornassem praticantes da Lei.

Por fim, a palavra final da igreja em Jerusalém foi a de uma liberdade com ressalvas para os crentes vindos de fora do judaísmo.

A gnose já começava a mesclar sua filosofia à fé cristã, em prejuízo desta.
Ou seja, em menos de meio século de existência, com muitas testemunhas oculares da ressurreição e ascensão de Jesus ainda vivas, a igreja já apresentava deterioração suficiente para clamores reformistas.

E a reforma só viria, veja-se, mil e quinhentos anos depois.


Houveram cismas políticos e seitas isoladas e fortemente reprimidas, mas um movimento de reforma abrangente na fé, que deu uma guinada severa e rompeu com um forte sistema estabelecido, aconteceu mesmo apenas após o século XVI.
Tão profundo que até mesmo os mais revolucionários cristãos de hoje o citam como exemplo a ser seguido. Contudo, o maior alvo das críticas dos novos revolucionários e reformadores, isto é, a igreja evangélica, é fruto direto do trabalho de Lutero, Calvino, Knox e contemporâneos.

Uma explicação necessária.
Quando me refiro a igreja evangélica não estou falando de teleevangelistas picaretas, pastores que usam extorsão em seus cultos, artistas gospel mesquinhos e arrogantes, ex-bigodudos falantes e petulantes, líderes de cabelo alisado fazendo propaganda de instituições financeiras com o nome de Jesus ou coisas do gênero.
Estes são só o tipo de cretinos que a atual sociedade consumista e viciada em televisão gera.

Outros tipos de sociedade geram outros tipos de cretinos.
Sociedades celibatárias geram cretinos pervertidos sexuais.
Sociedades puritanas geram cretinos pretensamente superiores na espiritualidade.
Sociedades liberais geram cretinos libertinos.
Sociedades virtuais geram cretinos que mascaram a sua realidade.
É claro que uma sociedade não é invalidada em si pelos cretinos que gera.
São apenas exemplos.

Mas se no ano que vem os revolucionários conseguirem mudar as igrejas, ou fechá-las, e implantar um sistema completamente inédito, bastará esperar para ver um novo tipo de cretino ainda não conhecido, totalmente imprevisto, nascer nas fileiras da gloriosa igreja neo-reformada.

E talvez antes mesmo da abominação cretina se manifestar na comunidade dos santos (quem lê entenda), alguém que discorde dos métodos implantados levantará com o dedo indicador rígido, apontando para os líderes do
movimento (sim, pois todo movimento tem líderes) e acusando suas falhas.

Não demorará para os líderes tomarem posse de vez de sua posição de liderança e declarar porque eles estão certos e a pessoa do dedo que aponta está errada.

Estará nascendo então o embrião de uma nova revolução.
Os revolucionários de hoje são os líderes questionados de amanhã.
Gente de quem não se espera nada hoje poderá estar derrubando em breve o sistema que ainda não foi implantado.

Alguns papéis se invertem, outros são criados, e a história se repete.

Infindáveis manifestações, rusgas, decapitações, batalhas nobres e não tão nobres não nos levaram muito longe.

A idéia aqui não é a de passividade diante de um sistema do qual se discorde.
Maus modelos podem e devem ser questionados.
Só não se deve esperar muito disso, nem achar que se está fazendo algo muito grande, ou muito diferente, ou novo.

A única coisa que consigo sugerir como alternativa é mudar o foco.

O modelo nada é, nada vale.
As pessoas valem mais.
É simples mesmo, um parágrafo contra treze, uma frase contra um texto:
pessoas ao invés do sistema.

O ideal é fazer como Jesus, que não dava muito atenção para métodos, modelos e instituições para poder se dedicar às pessoas.

Uma pequena revolução em cada vida será de maior valia que uma grande revolução em um modelo falido.

Teo em Um bicho de Rondônia

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Paula!

Não há problemas em copiar citando a fonte. Dessa forma pode-se fazer cópias dos textos lá do blog à vontade.

Abraço!

Por Ele. disse...

Textos muito bons!!
.
Fonte: Espírito Santo.

Anônimo disse...

Meeeuuuuuuuuuuuuuuuu Deeeuussssssss

=X