sábado, 8 de novembro de 2008

Em nome de nada, era hora de comer e em nome de ninguém, era bom.

"Quem bebia vinho, com os olhos tomava conta do leite.
Quem lento bebeu o leite,
sentiu o vinho que o outro bebia.
Lá fora Deus nas acácias.
Que existiam.

Comíamos.
Como quem dá água ao cavalo.
A carne trinchada foi distribuída.

A cordialidade era rude e rural.
Ninguém falou mal de ninguém porque ninguém falou bem de ninguém.
Era reunião de colheita, e
fez-se trégua. (ironia?)

Comíamos.
Como uma horda de seres vivos, cobríamos gradualmente a terra.
Ocupados como quem lavra a existência, e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre, e come.
Comi com a
honestidade de quem não engana o que come: comi aquela comida e não o seu nome.


Nunca Deus foi tão tomado pelo que Ele é.

A comida dizia rude, feliz, austera: come, come e reparte.
Aquilo tudo me pertencia, aquela era a mesa de meu
pai. (Pai)
Comi sem ternura, comi sem a paixão da piedade.
E sem
me oferecer à esperança.
Comi
sem saudade nenhuma.

E eu bem valia aquela comida. (Valia?)
Porque nem sempre posso ser a guarda de meu irmão, e não posso mais ser a minha guarda, ah não me quero mais.
E não quero formar
a vida porque a existência já existe. (Vida)
Existe como um chão onde nós todos
avançamos.

Sem uma palavra de amor.
Sem uma palavra.
Mas teu prazer entende o meu. (minúsculo mesmo)
Nós somos fortes e nós comemos. (fortes?)
Pão é amor entre estranhos."

Clarice Lispector.

"Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste."



CLAMOR!



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